terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Quando os sonhos se transformam em pesadelos

Tô com preguiça de blogar. E mais ainda de reviver os momentos chatos que vivi no Egito. Mas vou contar para vocês o que passei por lá.
Ir ao Egito sempre foi meu maior sonho. Sempre fui daquelas crianças fascinadas por coisas malucas: dinossauros, universo, Egito e civilizações misteriosas e sou assim até hoje. Por isso, desde criança alimentei o sonho de viajar para o Egito e ver de perto o que aquela maravilhosa civilização foi capaz de construir com pouca tecnologia (como a conhecemos).
Quando vim para a Europa, trouxe comigo a "má intenção" de ir lá, já que sabia que seria muito mais fácil e mais barato ir daqui. Assim, há mais ou menos dois meses, eu e o Nil começamos a pesquisar o preço das passagens e os pacotes que as agências de turismo ofereciam. Fiquei muito animada quando vimos os preços e ainda mais quando descobri que aqui existe uma coisa chamada "last minute", ou seja, se você comprar a passagem ou o pacote de última hora, consegue um preço ótimo. E foi assim que fizemos, por um preço que eu nunca imaginava pagar.
Estava tudo correndo perfeitamente.  Conseguimos um pacote para uma data boa, o hotel era cinco estrelas e era na praia ainda. Além de realizar meu sonho de ver as pirâmides e todas as outras maravilhas da história egípcia eu poderia também ir à praia e fugir do frio daqui.
Foi emocionante quando pousamos. Ver o aeroporto coberto de areia me fez lembrar, pela primeira vez, que eu estava indo para o deserto.

Chegamos ao hotel e as coisas começaram a complicar. Apesar de o hotel ser 5 estrelas e ter uma piscina, recepção e tudo mais maravilhosos, nos colocaram no pior quarto do hotel. O corredor cheirava xixi e do lado da nossa porta ficava o local onde eles colocavam as "coisas" (roupas de cama e toalhas sujas).
Na manhã seguinte fomos conferir os preços dos passeios. No pacote que compramos, diziam que teríamos um guia que falava alemão e inglês. Conversa para boi dormir. Além do "guia" não falar inglês direito, ele fazia parte de uma agência de viagens e só estava lá para nos vender os pacotes. E sem dar descontos!!
Mesmo assim, tudo bem. Escolhemos um passeio de camelo e uma viagem de dois dias para o Cairo. Queríamos muito fazer outros passeios, mas o dinheiro e o tempo não permitiam.
Depois fomos à rua procurar um banco, já que o Nil não tinha conseguido tirar dinheiro em Viena. E fomos atacados pelos muitos donos das lojas ao redor do hotel. A cada passo que dávamos, vários lojistas nos paravam, perguntavam de onde éramos e nos faziam entrar nas lojas deles. Não tinha escapatória. Eles mentiam, dizendo que só queriam que assinássemos o livro deles, porque nenhum brasileiro tinha assinado antes, mas era tudo lorota para nos fazer entrar na loja e comprarmos (uma vez que você entrava na loja, era quase impossível sair sem levar nada. Eles não deixavam!). Foi assim que, depois da terceira loja, praticamente saímos correndo para procurar o banco e ignorávamos qualquer "oi" que eles davam. Aprendemos que eles não são simpáticos atoa. Tem sempre uma má intenção por trás, que é arrancar dinheiro do turista! Neste dia, entendi, finalmente, porque os turcos (geralmente povos árabes) tem má fama quando se fala em dinheiro. E cheguei à conclusão de que a má fama que recebem é pequena diante da realidade!
No dia seguinte, resolvemos ir à praia e com muito esforço (porque estava frio, já que lá é inverno agora) e demos um mergulho no mar vermelho. Fizemos isso mais para falar que nadamos no mar vermelho do que por vontade de nadar, propriamente dita. Mas até que foi bom nadar nas águas calmas do mar vermelho e depois deitar ao sol. Já estava cansada de mendigar os poucos raios do sol que aparecem, de vez em quando, neste inverno europeu.

Terça-feira foi dia de andar de camelo. A van nos pegou em frente ao hotel e viajamos por 20 a 30 minutos, entrando cada vez mais no deserto. Encontramos com o cara que nos levaria no camelo e fizemos um agradavel passeio sob o vento forte do deserto.
Quando voltamos, conversamos bastante com os guias e descobri que um deles tem o mesmo sobrenome que eu: Nassur. Fiquei tão orgulhosa por encontrar  meus "parentes perdidos"! Parece que os guias simpatizaram muito conosco, principalmente pelo fato de sermos brasileiros. Não paravam de falar em futebol e insistiam em dizer que o futebol brasileiro era o melhor do mundo, mesmo quando explicávamos que já não existem jogadores como antigamente. Como eles disseram, "Brasil será sempre Brasil!".
Depois eles nos levaram a um lugar cheio de animais presos em aquários. Tinha várias cobras, crocodilo e muitas outras coisas. Os caras que tomam conta do local colocaram as cobras no nosso pescoço e nos deram os bichinhos para tirar foto. Foi muito legal este dia e voltamos muito sorridentes para o hotel.





Na quarta-feira partimos cedo para o Cairo. A viagem foi tranquila. Tínhamos um guia só para nós dois, pois o outro guia só falava alemão, e resolvemos pagar por isso. O guia foi ótimo durante toda a viagem, nos explicando muito sobre a cultura egípcia e tudo mais. À noite nós jantamos num lugar legal e depois fomos fazer um passeio de barco sobre as águas do rio Nilo. Por fim, nos levaram para o hotel. Neste ponto, inicialmente, ficamos decepcionados, pois quando pararam no hotel e todos desceram, nos disseram que aquele não era o nosso hotel. Não sei porque, mas parece que os falantes de alemão tinham alguma preferência. Mesmo assim, não tenho do que reclamar do hotel no Cairo. Parecia mais um flat do que um quarto de hotel, pois tinha cozinha, dois banheiros com banheira, sala e um quarto muito bom, tudo muito melhor do que o hotel em Hurghada.
Na manhã seguinte partimos para as pirâmides. E foi com um pouco de desapontamente que descobri que elas ficam na cidade do Cairo. Pensei que ficassem mais afastadas da cidade. E além de fila, também é necessário pagar paga entrar. E você tem que pagar ainda mais se quiser ver as pirâmides por dentro.
Entramos e vimos as pirâmides. Lindas e menores do que eu imaginava.


O guia nos deu um tempo livre para caminharmos e conhecermos o lugar. Neste momento dois caras em dois camelos se aproximaram e começaram a conversar conosco. Disseram que o Nil parecia 100% egípcio e insistiram para nos levarem num passeio de camelo. Dissemos que não várias vezes, pois não tínhamos dinheiro e tudo mais. O cara insistiu. Fez cara de indignado quando falamos em dinheiro e disse que era de graça, que era funcionário do governo. E lá foram os dois ingênuos brasileiros andar de camelo nas pirâmides. Eles nos deixaram em frente à pirâmide de Miquerinos, a menor delas, pois iríamos entrar e olhar como ela era por dentro. Quando saímos, eles estavam nos esperando e eu e o Nil resolvemos perguntar quanto era novamente, já que já havíamos percebido que o povo lá não fazia nada de graça. Então o cara jogou um preço super alto e dissemos que não tinhamos dinheiro. E dissemos que ele havia nos dito que não iria cobrar. Neste momento, o cara se transformou. Começou a gritar conosco e a partir para cima da gente, dizendo: "Eu disse isso? EU?" E começou a cobrar pelo dinheiro. Quase arrancou a carteira do Nil e achei que fosse nos bater ou fazer coisa pior quando mostramos a ele que só tínhamos Coroas, a moeda tcheca. Ele queria saber de todo jeito quanto valia em Euros e, quando percebeu que não tínhamos mesmo mais dinheiro, pegou as coroas tchecas muito nervoso e partiu. Eu quis chorar na hora, quis desabar. Foi horrível. Este momento estragou todos os outros. Embora eu tenha explorado um pouco mais as pirâmides e visitado outros lugares, a lembrança mais forte que tenho do Egito é do medo que senti naquela hora.
Depois nos encontramos com o guia novamente, fomos à Esfinge e depois ao Museu Egípcio. Tudo muito legal, mas confesso que partiu o coração ver que tiraram do lugar todas as riquezas da história.
Neste mesmo dia voltamos a Hurghada e decidimos não sair mais. Estávamos traumatizados demais com o povo explorador do local.
Quando estávamos no aeroporto, um dos caras que trabalhavam lá ainda ameaçou não passar as nossas malas caso o Nil não desse gorjeta. Tudo muito absurdo!
Ah, e isto tudo sem contar que eu e o Nil fomos acometidos de uma diarréia que durou quase todos os dias. E eu ainda tive muita dor de cabeça, de garganta e o meu nariz insistia em não me deixar respirar direito. Mas sobrevivemos no final das contas, graças a Deus!
Mas se eu puder fazer uma avaliação sincera do Egito, eu diria, com tristeza, que sinto que o país se prostituiu. Foi com tristeza que constatei que as propagandas e os outdoors pela estrada vinham sempre em inglês e/ou em alemão, quase nunca em árabe, a língua oficial do país. Foi com tristeza e admiração que notei a presença de dezenas de crianças menores de 8 anos na esfinge, falando todas as línguas que você possa imaginar (do português ao chinês e japonês), todas buscando um meio de arrancar do turista algum dinheiro. E foi com tristeza que vi no museu tantas peças expostas. Quero dizer, é importante que elas estejam no museu para preservação, mas eu senti que, ao retirarem do lugar onde estavam, fizeram do museu egípcio somente mais um lugar e mais uma forma de ganharem dinheiro. A história em si parece não ter nenhuma importância para a maioria dos egípcios, além de uma boa fonte de renda.
Mas também preciso reconhecer que, se me decepcionei, foi porque criei expectativa demais. A verdade é que, mesmo pesquisando na internet a respeito da cultura egípcia, pequei por não saber absolutamente nada a respeito e por esperar que tudo se adequasse ao modo como eu acreditaria ser perfeito.
E, no final das contas, deu tudo certo. Aprendi muito, amadureci muito e apaguei meu fogo no rabo de ir para lá! E agora só me resta lutar para que os próximos sonhos se realizem. Depois do Itamaraty, meu próximo sonho louco é ir para o espaço! Loucura, não? Mas não diga que é impossível, porque do jeito que as coisas andam, esse é só mais um dos objetivos que vou conquistar!
Um forte abraço a todos e perdão pelo texto grande. Juro que deixei de contar várias coisas para não deixar o texto ainda mais cansativo!